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Deus, Escrituras, Espírito Santo, Salvação, Teologia

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE “GANHAR ALMAS”

Que vivemos tempos onde o humanismo é predominante ninguém tem dúvidas. Pensando nisso, é necessário desmitificarmos algumas dos termos mais usados no meio evangélico. Um deles [e não querendo jamais minimizar ou excluir a instrumentalidade de Deus ao usar um homem miserável para pregar o evangelho a outro homem miserável], é a ideia de que nós “ganhamos almas”. Sabemos, cremos e confiamos que oEspírito Santo é o único capaz de ganhar pecadores. Esse pensamento exclui a ideia de que o termo ”ganhar almas” é equivocado. Com base nisso, deixo algumas considerações sobre esse pensamento errôneo, humanista e atual.1. O termo “ganhar almas” é equivocado por uma razão muito simples: sabendo a situação do homem natural de depravado e morto em pecados (Rm 3.10-18; Ef 2.1), ele é incapaz de ganhar a si mesmo, e quem dirá, então, ganhar outros para Jesus. O fato é que quem conquista o homem para si não é outro homem tão miserável quanto, mas alguém que é Todo-Poderoso e Soberano: Deus!2. O texto de Mateus 18.15 não deve ser usado como base para afirmar que alguém e capaz de “ganhar almas”. O contexto do capítulo 18 fala estritamente sobre a disciplina na igreja (ekklesia – reunião de pessoas). Portanto, no verso 15 não é um ímpio em questão, mas alguém que já foi ganho para Cristo, um irmão. O próprio texto confirma: “…ganhaste teu irmão”. A ideia de “ganhar o irmão” não está ligado a salvação, mas ao fato de que o irmão fora descoberto em pecado [ou ele mesmo confessou], e a postura da igreja foi a de corrigi-lo com o propósito de restauração. Neste caso, quem exortou foi instrumento de Deus para corrigir o irmão. O mérito também é de Cristo, não da igreja. 3. Outro texto a ser analisado é o de Tiago 5.19-20. Tiago usa a expressão “se alguém dentre vós…”, ou seja, o texto não está falando de alguém fora da igreja, mas de dentro. Além disso, a palavra “converter” usada nos dois versículos é o grego “επιστρεψη”, que significa “mudar de direção”. Como cristãos, somos constantemente chamados por Deus, através da Bíblia, a “mudarmos de direção”. Um ímpio necessita de uma “metanóia”, que é a mudança de mente, onde o cristão adquiri a mente de Cristo. Diferente do cristão, que já teve sua mente mudada e renovada (cf. Romanos 12.2). Além disso, o ímpio necessita de um novo coração; este novo coração já está no cristão (escrevi estritamente sobre regeneração aqui). Portanto, a aplicação do texto de Tiago está totalmente ligada com as palavras de Jesus em Mateus 18.15. O pensamento é de corrigir o irmão, a fim de que ele mude da direção em que está – provavelmente, o texto está se referindo à pessoas que foram “flagradas em pecado”, ou seja, estão caminhando em uma direção contrária a da obediência. 4. Quando Jesus chama os discípulos a serem “pescadores de homens”, em momento nenhum Jesus tem a pretensão de colocar nos discípulos o peso de “pescar homens”. Uma análise do texto mostra quais eram as intenções de Jesus. Em Mateus 4.19 é onde Jesus diz isso aos discípulos. Entretanto, se lermos o verso 18, veremos que Jesus viu aqueles discípulos pescando (literalmente). Eles eram pescadores e viviam disso. O que Jesus quer ensinar ao chamá-los para “pescarem de homens” é o fato de que o evangelho se tornaria agora a razão de suas vidas e não mais a pescaria. O Mestre estava chamando-os a uma nova vida, e isso envolvia algo maior do que suas profissões. Cristo, então, faz uma análise equiparada e usa até mesmo um tipo de metáfora (ouparábola), ao falar sobre a pesca e ligá-la, agora, aos homens. Além do mais, o mesmo Jesus que fez essa chamada aos discípulos, também disse que “ninguém pode vir a mim, se o Pai não o trouxer” (João 6.44 ACF). Ao que parece, os discípulos entenderam bem isso, tanto é que vemos nos escritos de Pedro, João e Paulo a exaltação da soberania de Deus na salvação, bem como o papel do homem como sendo unicamente o de pregar oevangelho. 5. Outro texto que não podemos ignorar é o de Provérbios 11.30. O único texto onde traz a palavra “ganhar almas”. Entretanto, esse texto não está ligado à pregação do evangelho e muito menos a conversões à Cristo. Assim como a grande parte dos textos de Provérbios, este traz também duas partes que se complementam. Os conselhos que vemos em Provérbios são conselhos 100% espirituais, mas pensando em uma vida ainda nesta terra. Tanto é que o verso 31 diz que “o justo recebe na terra a retribuição;”. Olhando para o contexto da época de Salomão, é nítida que a ideia aqui se trata de terras (lugares físicos) e não de um “céu”. Ou seja, usar este texto para embasar o pensamento de que o cristão deve “ganhar almas” é ignorar tanto o contexto bíblico, quanto o contexto histórico e até mesmo o restante da Bíblia. Lembremos, pois, que todo texto bíblico deve ser interpretado a luz de toda a Bíblia. 6. A ordem de Jesus para os cristãos está em Marcos 16.15: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. Esse é o nosso papel. Jesus nos chama a falar, anunciar, proclamar e ensinar sobre Ele e não a fazer o Seu papel. 7. Por fim, é válido lembrar que Jesus não “ganhou almas” de graça. O apóstolo Paulo disse que “fostes comprados por bom preço” (1 Coríntios 7.23 ACF). O fato é que Jesus ganhou almas porque Ele as comprou com seu sangue. Ora, quem de nós seria capaz de ganhar alguma alma, visto que nem a nossa nós fomos capazes de ganhar? Afirmar que o homem “ganha almas” é dizer que Jesus não conseguiu sozinho e precisa de nossa ajuda. Não caiamos neste erro, amados irmãos. O mestre Jesus já conquistou na cruz todas as suas ovelhas. Ele deu a Sua vida em favor delas para que elas nunca se perdessem (João 10.28-29). É um insulto tanto à soberania de Deus, quanto ao sacrifício de Jesus na cruz afirmar que alguém é capaz de