27 de outubro de 2025

Cosmovisão e outros, Diálogos, História, Homem, Teologia

E SE… A REENCARNAÇÃO FOSSE VERDADEIRA? Um conto sobre Pelágio e John Wesley

Disclaimer (Aviso) Na neblina cinzenta da Inglaterra do século XVIII, eis que surge John Wesley, um pregador incansável, com calças apertadas, peruca impecável e um entusiasmo tão exagerado que mais parecia tentar convencer a si mesmo do que a multidões. O que ninguém suspeitava, nem mesmo Wesley, às vezes, era que ele carregava a alma de um homem antigo, obstinado e que gostava muito de debater. Seu nome? Pelágio. Sim, Pelágio, o mesmo que outrora debatera com Agostinho, agora reencarnado, tentando corrigir o mundo inteiro com sermões e passadas apressadas. Wesley-Pelágio se lembrava vividamente: ”Ah, como eu era perspicaz em Roma! Como eu defendia a liberdade do homem com tanta convicção que até Deus parecia duvidar de si mesmo!” Ele ria sozinho em seu quarto de hóspedes em Oxford, imaginando a ironia. Agora, ele teria um exército de seguidores, bandas de fiéis que corriam pelos campos de Inglaterra, tentando demonstrar que a salvação poderia ser escolhida por livre-arbítrio, cultivada, melhorada, quase como um treino de ginástica moral. O problema é que, como sempre, havia um homem chamado Whitefield. George Whitefield, nada menos que a reencarnação de Agostinho, corria pelas estradas do país pregando simplesmente o que a Bíblia ensinava. Ou seja, que o homem é incapaz de ir até Deus, que a graça irresistível era um fato incontestável e que Wesley, coitado, estava apenas enganando a si mesmo e aos pobres aldeões. Cada encontro entre eles, apesar de agora serem bons amigos, era como uma partida de xadrez espiritual, exceto que, em vez de peões e bispos, havia multidões, sermões e olhares de desdém (pouco se conta que Whitefield confrontava e exortava Wesley com frequência devido a sua crença sinergista). Wesley, lembrando das disputas antigas, murmurava para si: *_”Aquele velho Agostinho… ainda insiste em vencer debates, agora na forma de Whitefield, mas desta vez, meus sermões serão maiores, mais longos, mais apaixonados! Mostrar-lhe-ei que todos podem escolher! Todos! Até o cavalo do padeiro!” E, de fato, Wesley pregava como se cada alma fosse um projeto de engenharia moral, por assim dizer. Ele acreditava piamente que, se falasse o suficiente, caminhasse rápido o suficiente, escrevesse panfletos suficientes, poderia literalmente moldar o destino de cada pecador inglês. Pelágio, orgulhoso, sorria para si mesmo: ”Finalmente, o mundo verá o triunfo do livre-arbítrio!” Enquanto isso, Whitefield ria de volta, com aquela confiança de Agostinho que vinha desde os séculos passados: ”Deixe-o tentar. Ele acredita no livre-arbítrio como se fosse magia. Que ele corra, que ele pregue. No fim, a graça irresistível não falha.” E assim, a Inglaterra se transformava em um palco de sátira espiritual, por assim dizer. Wesley-Pelágio corria pelas ruas, pregando que a escolha humana poderia alcançar qualquer coisa, enquanto Whitefield-Agostinho subia aos púlpitos, dizendo que nada do que Wesley ensinava importava, porque só a graça de Deus é fator determinante para a salvação. E em algum lugar, no fundo, o mundo inteiro ria da eternidade, sabendo que mesmo a reencarnação não havia mudado a arrogância humana nem o drama da criação. No fim das contas, a reencarnação era a cereja do absurdo. Pelágio agora tentava vencer Agostinho, Wesley tentando convencer o mundo inteiro, e o pobre Whitefield só pensava: ”Será que ele nunca cansa de correr?” E assim o ciclo continuava, eternamente, entre sermões intermináveis, passos apressados e um ego que acreditava poder moldar a salvação à força do entusiasmo e da razão humana. A história é fictícia, é claro, mas sabemos que existe um fundo de verdade. O espírito de Pelágio ainda vive. Você sabe como identificá-lo? — Clinton Ramachotte

a family of four on a beach
Cosmovisão e outros, Deus, Ética, Homem, Pecado, Sociologia

FILHOS: SOU MESMO OBRIGADO(A)?

É, esse é o tema do momento. O advento da internet (como muitos chamam) abre espaço para que qualquer pessoa, seja ela sensata ou não, sábia ou tola, comente sobre tudo. Até porque, o que pode gerar mais curtidas e seguidores, é exatamente o que vou postar, caso esse seja esse o meu objetivo. No momento, muito tem se falado sobre filhos, e tendo isso em mente, preciso esclarecer alguns pontos que vi sendo levantados em meio a esse fogo cruzado. Devo começar dizendo que o assunto “filhos” não deve ser tratado de forma simplista. É preciso que sejamos exaustivos, caso desejamos adquirir uma posição consistente e bíblica. Com isso, devemos entender, biblicamente, o que são os filhos tanto para Deus, quanto para os pais. Diz a Palavra de Deus: “Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão.” (Salmos 127.3). Pela Bíblia, entendemos que filhos são: herança do Senhor. Perceba que aqui, o salmista não diz que os filhos são herança dos pais, mas do Senhor. E por que? Porque tudo o que existe, existe com o objetivo de glorificar a Deus. Nosso casamento, nossos bens, nossos filhos, tudo isso é sobre Deus ser glorificado, e não sobre o “eu” ser satisfeito. Entendendo que filhos são heranças do Senhor, o que claramente configura-se como benção, devemos tratar esse assunto não com a pergunta “sou obrigado(a) a ter filhos?”, mas “devo querer ter filhos?”. Yago Martins pontuou muito bem em seu Twitter quando disse: “Para um cristão, não querer ter filhos é pecado. Você pode não ter, pode decidir adiar, pode até tomar a decisão pela infecundidade baseado em motivos e circunstâncias diversas, mas deveria querer e tratar a própria infecundidade como uma circunstância ruim.” Mencionei no começo do texto que não devemos tratar esse assunto de forma simplista, e quando parto do pressuposto “sou obrigado(a) a ter filhos?”, estou sendo simplista, pois não é essa a tensão existente no cotidiano cristão. Devemos tratar aqui sobre QUERER ou não ter filhos. Se entendemos pela Bíblia que ter filho é benção, por qual motivo não vamos querer? Acaso alguém que seja regenerado deseja não receber uma benção claramente expressa na Escritura? Isso é irracional. Seja como for, não devemos tratar sobre OBRIGAÇÃO, mas sobre QUERER. Por qual motivo alguém, que seja cristão, não quer ter filhos? Recentemente, o apresentador Fábio Porchat disse algo bem polêmico sobre ter filhos, e que espantou muitos cristãos: “É um inferno ter filho. O maior medo é perder o que construímos. Somos muito companheiros. Tenho medo de um filho atrapalhar. Esse casamento me dá paz, a gente compra as maluquices um do outro. E filho atrapalha”, disse o apresentador. Mas veja bem, a diferença entre Fábio Porchat e os cristãos que não querem ter filhos pois colocam seus sonhos e objetivos profissionais e pessoais antes de uma herança do Senhor não é tão gritante assim. Na verdade, estão mais parecidos do que diferentes. Se por um lado, um incrédulo declara não querer ter filhos porque eles atrapalham, “cristãos” tem declarado nas entrelinhas a mesma coisa quando decidem NÃO QUERER ter filhos. Entendeu porque não devemos tratar a chamada de Deus para a maternidade/paternidade como obrigação? Cristãos devem QUERER ter filhos, ainda que em um futuro distante, mas jamais tratar vidas que são tão preciosas para Deus como uma “obrigatoriedade“. Tratemos essa questão como Deus, e não como nosso coração egoísta e pecaminoso trata. – Clinton Ramachotte

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