Um dos argumentos ateístas mais recorrentes contra a fé cristã é a ideia de que a Bíblia não passa de um livro escrito por homens, como qualquer outro. A acusação soa convincente à primeira vista, mas se dissolve quando analisamos a própria natureza das Escrituras. Se fosse escrita por cavalos, teria mais credibilidade? Inclusive, os livros de ciências e as suas diversas teorias também foram escritas por homens. Vale o mesmo questionamento?
É verdade que a Bíblia foi escrita por homens, mas isso nunca significou que sua origem fosse humana. É fantástico que a própria Bíblia mostre isso, nas palavras do apóstolo Pedro: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1.21). O testemunho interno das Escrituras deixa claro que os autores (humanos) foram instrumentos, não inventores da mensagem.
A unidade da Bíblia por si só já é um testemunho de inspiração divina. São 66 livros, escritos por mais de 40 autores diferentes, em um período de aproximadamente 1.500 anos, em contextos culturais, geográficos e sociais distintos. Mesmo assim, ela apresenta um fio condutor único, apontando para a revelação do Deus Criador e Redentor, que culmina na pessoa e na obra de Jesus Cristo. Obras puramente humanas não resistem a esse teste. Se compararmos, por exemplo, a série de livros mais vendida do século, como Harry Potter, encontramos erros de continuidade, lacunas de enredo e contradições internas em apenas sete volumes, redigidos por uma única autora, num espaço de poucos anos. A Bíblia, ao contrário, mantém perfeita harmonia em dezenas de séculos de escrita, com autores separados por continentes e línguas. Isso é surreal!
Outro ponto é a impressionante rede de referências cruzadas. São mais de 60 mil conexões entre os textos do Antigo e do Novo Testamento, mostrando uma unidade literária e teológica impossível de ser orquestrada por meros homens ao longo de tantos séculos. É como se cada autor tivesse consciência do todo, o que não é humanamente explicável sem o fator sobrenatural. Quem poderia dizer que Moisés e Paulo estariam em perfeita harmonia, vivendo séculos de distância um do outro?
As profecias cumpridas são também outro argumento incontornável. Isaías predisse com exatidão o sofrimento vicário do Messias (Isaías 53), e esse texto se cumpre cabalmente em Cristo, séculos depois. Miquéias anunciou que o Salvador nasceria em Belém (Miquéias 5.2), o que se realiza nos Evangelhos perfeitamente. O Salmo 22 descreve em detalhes a crucificação, num tempo em que esse método de execução sequer era praticado em Israel. A probabilidade de tantas profecias se cumprirem ao acaso é praticamente nula. Seu cumprimento demonstra claramente a intervenção divina. É impossível algo assim sem que haja um processo sobrenatural.
Por fim, a alegação de que a Bíblia contém contradições é infundada. Muitos dos exemplos apresentados por críticos não passam de leituras superficiais ou de má fé mesmo, que ignoram contexto histórico, literário e linguístico. Quando corretamente examinados, os textos não se anulam, mas se completam, como múltiplas testemunhas que relatam o mesmo acontecimento de ângulos distintos. Os quatro evangelhos mostram isso com uma clareza fantástica.
Fato é que a Bíblia foi escrita por homens sim, mas homens movidos, impulsionados e conduzidos pelo próprio Deus. Sua unidade, a precisão profética, a coerência interna e a profundidade teológica tão bem amarrada entre Antigo e Novo Testamento demonstram que ela não é só palavra de homens, mas Palavra do próprio Deus que se revela e fala de geração em geração. Como afirmou John Piper: “Deus escreveu um livro”. O Autor da Bíblia é o Espírito Santo. Homens são meios, instrumentos nas mãos dAquele que é Todo-Poderoso.
— Clinton Ramachotte
Clinton Ramachotte é membro da Igreja Batista em Moraes Prado, na capital de São Paulo.
Bacharel em Teologia pela FATERGE, e também pela ESTEC-REF. É também professor da matéria de Seitas e Heresias na ESTEC-REF.
Autor de obras importantes na apologética, como “Os 5 Solas e Eu: A Prática Piedosa dos Solas da Reforma”, “Resposta aos Adventistas do 7° Dia: Um Tratado Apologético”, “Desvendando o Islamismo: Dissecando a Religião Muçulmana”, dentre outras obras.
